Ex-secretário de Bento XVI vira embaixador do Vaticano nos Bálticos após críticas ao Papa Francisco

Ex-secretário de Bento XVI vira embaixador do Vaticano nos Bálticos após críticas ao Papa Francisco

Georg Gänswein: Da polêmica com Francisco ao novo posto diplomático

A nomeação de Georg Gänswein como embaixador do Vaticano para Estônia, Letônia e Lituânia pegou muita gente de surpresa, principalmente dentro dos corredores da Igreja Católica. Afinal, até outro dia, ele estampava manchetes por causa de um livro em que fez críticas abertas ao Papa Francisco, em especial sobre os rumos da Igreja e o peso das diferenças entre o pontificado de Francisco e de seu mentor, o saudoso Bento XVI.

Gänswein ficou quase trinta anos ao lado de Bento XVI, desde os primórdios do trabalho de Joseph Ratzinger na Cúria Romana, crescendo junto com ele e sendo promovido até assumir a função de secretário pessoal. Essa posição garantiu a Gänswein muitos contatos de peso e uma influência enorme entre cardeais e bispos de perfil mais conservador, especialmente aqueles que nunca esconderam incômodos com as reformas e aberturas propostas por Francisco após a renúncia de Bento, em 2013.

A publicação do livro polêmico, em que Gänswein narra bastidores do Vaticano e critica decisões do atual papa, caiu como uma bomba no Vaticano e acirrou a disputa pública entre alas opostas da Igreja. Apesar do histórico de conflito, agora ele assume uma função vital para as relações católicas no nordeste da Europa.

Os bastidores da decisão de Francisco

Os bastidores da decisão de Francisco

A leitura que domina em Roma é clara: Francisco optou por não confrontar diretamente o ex-secretário de Bento XVI e preferiu usar a diplomacia. Em vez de isolar Gänswein, o papa o envia para a linha de frente diplomática em uma região estratégica. Os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — ganham relevância não só pela localização sensível entre o Ocidente e a Rússia, mas também pelo crescimento de discussões sobre liberdade religiosa e valores tradicionais na região.

O cargo é mais que um prêmio de consolação. Ele carrega o desafio de articular a posição do Vaticano em países marcados por uma convivência delicada entre católicos, luteranos e ortodoxos. Apesar de o catolicismo não ser a religião majoritária, a atuação diplomática exige jogo de cintura e experiência, algo que Gänswein cultivou ao longo de anos no centro do poder da Igreja.

Muita gente entende essa escolha como uma jogada inteligente de Papa Francisco. Ao enviar uma voz crítica para uma missão relevante fora de Roma, ele sinaliza abertura ao diálogo com setores mais conservadores, mas sem abrir mão do controle da Cúria e dos rumos que vem imprimindo à Igreja desde 2013. É, no fim das contas, uma forma de administrar o dissenso sem comprar briga pública, transformando rivais internos em representantes do Vaticano em temas complexos lá fora.

Com esse gesto, Francisco lança um recado tanto para aliados quanto para críticos: na sua Igreja, há espaço para diferentes vozes — desde que aceitem jogar pelo time e embarcar, muitas vezes, em missões diplomáticas distantes dos holofotes romanos.

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